sexta-feira, 1 de março de 2013

POEMA EU PESCADOR ME CONFESSO



EU PESCADOR ME CONFESSO

“O trabalho do menino é pouco
quem o despreza é louco”
Dizia muito a Karola
Muito em segredo ti João Silvestre
Ora aquela bruxa sacola!...
Aos dez anos comia já o pão que o diabo amassou
Dez anos ao sair da escola
Aos doze anos, sendo humano como sou
Ser mariscador amador
A mente sempre irriequieta pensou
Numa tentativa de contribuir mais para o orçamento familiar
Como companhia imaginei a ti Lourdes
Também a ti Alzira, bastava o pai autorizar
A andar quatro quilómetros
Para chegar àquele perigoso mar
Já ali em perfeita comunhão com a natureza
De pesqueiro em pesqueiro saltitar
Se não fora as lapas de que a mãe fazia saboroso pitéu
Por vezes todo o tempo do mundo e sem nada apanhar
Acumulando com gosto maquinei ser também pescador
Outro patamar!
E tanto meditei que apenas só uma vez ver fazer
Anzóis aprendi, como qualquer marinheiro, a empatar
Dinheiro para custo de anzóis e fio, foram de temer
O resto seria artesanal
A cana do canavial onde a fui escolher
Por mãos próprias trabalhada, um mimo sem rival
Para o pai de novo aceder
A companhia de um seu amigo
Apresentei para me proteger
Era o Júlio, com a ajuda dele
Tentar apanhar robalos, sarguetes ou bodions com a força do querer
Aconteceu uma dia, escolhemos um lagedo
Nada o fazia prever
Dentre bastante entretenimento, confesso
Com o entusiasmo escapou que a maré estava a encher
Fui mariscador de polvos e navalheiras
Vislumbrei ali a morte a temer, nada de dor
Bastante pesquei
Confesso que fui pescador

Daniel Costa


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